Que saudade
da minha máquina de escrever!
Que fazia
uma barulheira
infernal!
Eu me sentia
mais escritor
com ela!
A fumaça do cigarro
ia subindo
se espalhando
dando voltas
no ar!
É claro!
Eu não conseguia
escrever, coisa nenhuma!
Mas o barulho das teclas
abafava
o tédio
de não estar
pensando
em alguma coisa...
Importante.
Acabei
não sendo escritor.
Fui poeta.
Autor: Douglas Maurício Zunino nasceu no município portuário de Itajaí, porém migrou para Blumenau aos cinco meses de idade, nos braços de uma senhora de 54 anos que viria a ser sua mãe adotiva. Filho de pais desconhecidos, Zunino só tomou consciência do fato quando foi matriculado na escola, momento em que se fez necessário seu registro civil. Assim, considera-se blumenauense, e ainda que Itajaí se anuncie em alguns dos seus poemas, como quando o poeta diz “Minha velha Itajaí / Quanto tempo custou a / reencontrar-te! / Mais de 30 anos! / Como andei órfão de ti!” (“Ode a Itajaí e ao mundo”, In. “Reversos inversus”, 1993), são as ruas e os morros de Blumenau o cenário do homem que começa a se construir poeta depois de ler Maiakovski (1893-1930) e escrever, em 1982, a “Confissão de um poeta marginal” (publicado no livro “Tatuagens”, de 2004). Em “Peregrino do mesmo lugar” o poeta indaga, “O que seria de mim / sem essas montanhas? / Esse eterno subir / e descer? / Essas curvas?” (“Na curva do rio”, 2002), numa clara alusão à geografia da cidade em que compôs sua biografia e a qual dedicou os versos “Minha cidadela / Minha utopia / Tuas ruas / estão em minhas veias” (“Cidadela”, 2006). E é justamente o ponto nevrálgico da malha urbana blumenauense, a Rua XV de Novembro, que o poeta reconhece como sendo seu abrigo e sobre a qual escreve: “Sinto a alma / dos teus nervos / Infinito repartido / Por isso, / me tens / em ti / Só pelo prazer / de te ver / Só pelo prazer / de ser / Teu” (“Rua XV”, In. “A motocicleta azul”, 2009).
Figura folclórica da cultura blumenauense, Zunino carrega consigo a identidade da poesia marginal, fato que estigmatiza e simplifica sua produção literária. Qualquer leitura de sua obra implica, inicialmente, no reconhecimento de duas fases: a primeira, esta sim carregada da estética marginal, em que o poeta se insere na cena intelectual, produz fanzines, contribui com a fundação da Associação dos Poetas Independentes de Blumenau, publica os primeiros livretos – vendidos de mão em mão pelo próprio autor – e se completa com a publicação de “Essa palavra” (1999), uma espécie de antologia da sua obra em livretos; e a segunda, com a publicação dos livros propriamente ditos e com uma estética mais formal e lírica, cuja temática está centrada na memória, no inventário da sua opção de sobreviver poeta, no diálogo com a vida urbana e numa visão crua e desesperançada da realidade, como no poema “Rostos”: “Somos rostos / cansados / Somos rostos / marcados / Somos rostos / magoados / Macerados / Somos rostos / curvados / Somos rostos / ocos / Somos rostos / duros / de desgosto” (“A motocicleta azul”, 2009). (retirado do BLOG A Garganta da Serpente, de Viegas Fernandes da Costa, http://www.gargantadaserpente.com/artigos/viegas7.shtml)
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