terça-feira, 16 de julho de 2013

Máquina de escrever

Que saudade
da minha máquina de escrever!

Que fazia
uma barulheira
infernal!

Eu me sentia
mais escritor
com ela!

A fumaça do cigarro
ia subindo
se espalhando
dando voltas
no ar!

É claro!
Eu não conseguia
escrever, coisa nenhuma!

Mas o barulho das teclas
abafava
o tédio
de não estar
pensando
em alguma coisa...

Importante.

Acabei
não sendo escritor.

Fui poeta.

AutorDouglas Maurício Zunino nasceu no município portuário de Itajaí, porém migrou para Blumenau aos cinco meses de idade, nos braços de uma senhora de 54 anos que viria a ser sua mãe adotiva. Filho de pais desconhecidos, Zunino só tomou consciência do fato quando foi matriculado na escola, momento em que se fez necessário seu registro civil. Assim, considera-se blumenauense, e ainda que Itajaí se anuncie em alguns dos seus poemas, como quando o poeta diz “Minha velha Itajaí / Quanto tempo custou a / reencontrar-te! / Mais de 30 anos! / Como andei órfão de ti!” (“Ode a Itajaí e ao mundo”, In. “Reversos inversus”, 1993), são as ruas e os morros de Blumenau o cenário do homem que começa a se construir poeta depois de ler Maiakovski (1893-1930) e escrever, em 1982, a “Confissão de um poeta marginal” (publicado no livro “Tatuagens”, de 2004). Em “Peregrino do mesmo lugar” o poeta indaga, “O que seria de mim / sem essas montanhas? / Esse eterno subir / e descer? / Essas curvas?” (“Na curva do rio”, 2002), numa clara alusão à geografia da cidade em que compôs sua biografia e a qual dedicou os versos “Minha cidadela / Minha utopia / Tuas ruas / estão em minhas veias” (“Cidadela”, 2006). E é justamente o ponto nevrálgico da malha urbana blumenauense, a Rua XV de Novembro, que o poeta reconhece como sendo seu abrigo e sobre a qual escreve: “Sinto a alma / dos teus nervos / Infinito repartido / Por isso, / me tens / em ti / Só pelo prazer / de te ver / Só pelo prazer / de ser / Teu” (“Rua XV”, In. “A motocicleta azul”, 2009).
Figura folclórica da cultura blumenauense, Zunino carrega consigo a identidade da poesia marginal, fato que estigmatiza e simplifica sua produção literária. Qualquer leitura de sua obra implica, inicialmente, no reconhecimento de duas fases: a primeira, esta sim carregada da estética marginal, em que o poeta se insere na cena intelectual, produz fanzines, contribui com a fundação da Associação dos Poetas Independentes de Blumenau, publica os primeiros livretos – vendidos de mão em mão pelo próprio autor – e se completa com a publicação de “Essa palavra” (1999), uma espécie de antologia da sua obra em livretos; e a segunda, com a publicação dos livros propriamente ditos e com uma estética mais formal e lírica, cuja temática está centrada na memória, no inventário da sua opção de sobreviver poeta, no diálogo com a vida urbana e numa visão crua e desesperançada da realidade, como no poema “Rostos”: “Somos rostos / cansados / Somos rostos / marcados / Somos rostos / magoados / Macerados / Somos rostos / curvados / Somos rostos / ocos / Somos rostos / duros / de desgosto” (“A motocicleta azul”, 2009). (retirado do BLOG A Garganta da Serpente, de Viegas Fernandes da Costa, http://www.gargantadaserpente.com/artigos/viegas7.shtml)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

ÚLTIMA NOTÍCIA

A praça está só...

Há uma espada oculta
Conferindo esquinas
Calada sentinela
Entre os bancos da praça
Calando as canções!

O tempo é outro
O sonho é morto

Testemunha vejo
Mercador, confiro
A vida não tem
A medida do amor

Nascidos para ser amplos como o mar...
Nascidos para ser livres como o vôo...
Estamos represa e rochedo!

O gesto não tem
O alcance da Paz...

A praça está só...
O amo é quase
O perdão é quase
Concreto é o câncer!

Concreta é a peste
Decompondo estrelas
O poder da espada
Ensanguentando a fé!

Concreto é o exílio
Encarcerando as almas...

Concreto é o sangue
O sangue do mundo
Cobrindo de rubro
A face do sol!

Onde o amor é quase
O perdão é quase...
Concreto é meu nome
Num muro de pedra
Selando a saudade

Concreta es la muerte
De vivir sin nada
Concreta es la muerte...

También son las madres
Las "Locas de Mayo"
Llorando sus hijos
Hermanos
La suerte...

Onde o amor é quase
O perdão é quase!...

Concreta é a espada
A espadaespadaespadaespada

Concreta es la muerte
De vivir sin nada

Concreta é a dor
E sua cicatriz!

Autor: Miguel Moacir Alves Lima, nascido em Pernambuco, veio para Santa Catarina em 1974 trabalhar como advogado em Xanxerê. Em 1977 ingressou no Ministério Público Estadual, atualmente está aposentado e morando na Bahia.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

ENERGIA

Teus olhos 
entravam em mim.

E refletias o arco-íris,
Os cheiros da paixão.

(intensidade desconecta)

E sem razão
Ficas retido
Em minha retina

Sinto você
Enchendo-me de ti.

E dobras a esquina
(rápido)
antes que vejas
a luz azul que trago
em meu ombro esquerdo...
Até a próxima...

Martins ao Cubo : altura, largura e profundidade da existência. Jairo Pacheco Martins, José Endoença Martins, Rosane Magaly Martins. Blumenau : Odorizzi, 2008, p. 17.

TEMPESTADE

Eis que veio a tempestade...

O poeta da paixão quedou-se
ao banhar em seu tempo.

Temerário, sem culpa,
rasgou as poucas vestes
e as remeteu às brasas

De unhas gravadas,
extirpou barbas e espremeu
um a um, cada verme recolhido.
Fez-se um rio de sangue em sua face.

E ele chorou
um novo rio a tecer virgens traços,
renovados rumos em sua gélida agonia.

Poesia de Fátima Venutti, em livro de sua autoria "Tempestade", Blumenau : Novaletra, 2010.

Poesias de Vilson do Nascimento

Vilson do Nascimento poeta surrealista publicou essas poesias na Revista Palavras Azuis, Ano I, n. 03, Novembro/2005:

Escultura de Luz
Para Regina Ballmann

Minha mulher
desafia voluptuosidades.
Acende meu prazer
de máscara e labaredas.
Atiça minha
língua de algas.
Minha mulher
É um altar de caramujos,
uma escultura de luz.

De ossos

Um poema.
Um poeta.
Uma sombra 
no ladrilho.
Refúgios e 
ousadias de ossos.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

5

O Corpo
É onde eu vivo
De sol a sol
Eu sou a isca
Ele é o meu anzol.

MARTINS, José Endoença. TRASEIRO DE BRASILEIRO. Editora do Autor : Blumenau, 1992, p. 11.

74

Para estrear esse novo blog, trago um poema do livro Traseiro de Brasileiro, de José Endoença Martins.
Segundo o autor, esse livro expressa a recusa em tomar o nosso receptáculo da modernidade de quem quer que seja.

José nasceu no município de Blumenau (SC) em 25 de março de 1948. Graduou-se em Letras pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), onde lecionou Literatura Inglesa até se aposentar. Titulou-se Mestre e Doutor em Literatura Inglesa pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Dados retirados de seu blog  http://www.bc.furb.br/sarauEletronico



Solte os dados
Solte os doidos
Solte os dedos
Solte todos.
Soltar tudo
E nesta soltura
Deixar que tudo
Esteja solto:
O amor,
O vivo,
O morto.
Soltar os nós
E as amarras
Do que estiver preso
- a beleza -
Antes que alguém
Menos solto
Vire a mesa.

MARTINS, José Endoença. Traseiro de Brasileiro. Editora do Autor : Blumenau, 1992, p. 82-83.